4 de ago. de 2009

Essas cinzas.

Minha nova cor é cinza. Estou cinza pela manhã, vou jantar vestida de cinza, tenho lençóis chumbo e pratos cinza escuro. Na verdade, o cinza tem feito meus dias menos pretos e menos brancos. Não somente pelo tempo que a cada dia se fecha mais, mas pelo que fecha aqui dentro. São quase trinta anos que passaram, são quase muitas cidades que me acolheram, são quase muitas pessoas que me fazem bem e me trazem alguns sorrisos de vez em quando. Já é tempo de valorizar os fios brancos que já se destacam e aprender que muitos ainda hão de vir sem nenhuma forma de timidez. E todos os dias passaram a ter cara de todos os dias. Assim como os finais de tarde, inícios de manhãs, metades de certas horas. Não se sabe mais o que incomoda menos. Não se sabe menos o que distrai mais. Alguma força desconhecida ainda me puxa para baixo. Para cima, somente quando há alguém com um olhar desconfiado achando que a vida é bem suave. E eu tento acreditar nisso. Viver parece ser mais simples do que se cobra. Acordar e respirar é o básico de uma mistura que se complica quando se precisa andar. A decepção chega em um pacote de presente disfarçada de amizade. Dia após dia. E eu acredito e abro. Solidificando as lágrimas, eu vivo. Vestida de cinza, sem clareza, agora em dias mais claros. Será que o colorido que existe ainda é palpável? Percebo que cada dia aumenta mais minha intimidade com o abstrato. Medo deve ter cheiro de coisa boa. Quiçá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário