24 de ago. de 2009

Esses nove meses.


E foram nove meses muito leves. Desde o milagre da renovação ao rebento. Contrariando Dickens, leio um conto de uma cidade só. Nove meses com alguns testes, muitas visitas, poucos médicos, alegria nas padarias e cheios de vontade de conhecer cada pedaço de uma vez. Mês a mês divididos por sonhos, apetites e curiosidade exagerada. E foram nove deles. Nove meses de esperança, de uma vida normal, de agradecimentos diários a Deus por passos dados no meio-escuro e no meio-claro, dados como presentes como faz quem quer conquistar. Nove meses de descobertas de uma linguagem diferente, de pessoas docemente novas, de caminhos desconhecidos e nada azedos. Até então. Foram nove meses de suave achismo e puríssima esperança de que tudo valia a pena e que o inferno eram os outros. Nove meses até o rebento. Até o estrondo da realidade ecoar no vidro do meu carro. Uma desconhecida criança que talvez eu nunca tenha visto nem verei mais, mas que tinha uma vontade que eu podia ter vivido sem conhecer. E ali a mostrou. Quebrou o vidro do meu carro, encostou em mim para me invadir e procurar uma bolsa que não existia. E correu, fugindo do nada, coberto por um boné para se esconder... da garoa, só pudera. E os espectadores assistiam ao final infeliz como assistiam a um senhor de idade deixando cair as moedas do seu bolso ao atravessar a avenida movimentada. Foram exatos nove meses completados ontem e desenrolados em dois segundos. O resultado piegas e maçante de uma paixão. Paixão um dia plantada por uma cidade de muita gente interessante, de muita coisa incrível, de muitos segredos-novidade, de muitas surpresas ambulantes e de pequenos podres andantes. Nove meses para se conhecer algo sem nenhuma espera. E como todo ingênuo, as surpresas são sempre o destaque de qualquer coisa que dá medo e que assusta. Mas depois de nove meses, há que ter vida, há que continuar. Agora, conhecendo o que existe. A violência apareceu e chegou perto sem cerimônia nenhuma em se apresentar. Há que se moderar o apetite, cuidar da reforma da alma. Aprender a conviver? Jamais. Como todo fim de uma paixão, São Paulo, não dá mais pra enrolar. É hora de virar amor ou acabar com o sentimento de uma vez.

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